
04 Mai Simone. A Viagem do Século. Notas de um espectador rendido.
A convite da representação do Parlamento Europeu em Portugal, e com gestão do evento a cargo da Films4you, vimos ontem em antestreia o novo filme «Simone. A Viagem do Século».
Extraordinária mulher, Simone Veil, uma judia secularizada e assimilada na França dos anos 1920, irá depois conhecer a deportação para os campos da morte nazi na Polónia, de onde apesar de tudo escapará com vida (ao contrário da mãe, do pai e do irmão).
Após o fim da guerra, volta a França, onde, tal como os outros judeus sobreviventes do Holocausto, é recebida com as reservas resultantes da má consciência de uma boa parte da França, nomeadamente da França colaboracionista de Petáin….
Apesar de tudo, irá formar-se em Ciências Políticas (Science Po, como dizem em França) e, mais tarde, contra toda a misogenia da magistratura francesa, consegue aceder à carreira da magistratura…. e toda a sua vida, na alta administração como na política, ao serviço da direita liberal (orleanista) e europeista da UDF (de Giscard D’Estaing), será uma vida de luta pelos direitos humanos fundamentais dos mais fragéis e dos deserdados da vida (as mulheres que tinham de abortar em situações indignas e com risco de vida, porque ilegalmente; os presos que viviam em condições indignas em França; os presos da FLN na Argélia, que foram presos e torturados e viviam em condições ainda mais indignas; os doentes de SIDA ostracizados nos anos 1980 pelo SNS francês; etc.).
É uma vida relatada em filme, uma pelicula baseada nas memórias que Simone Veil escreveu por volta dos 80 anos, que de tão rica e tão e heróica e tão generosa é bem «A Viagem do Século»!, desde os campos da morte nazis, passando pela França do pós guerra (desde a «ressaca» do colaboracionismo… até à Guerra na Argélia e ao Maio de 1968, por exemplo), até à primeira eleição direta do Parlamento Europeu (1979) e à Guerra da ex-Jugoslávia (1991-2001).
O filme oscila entre a vida em familia, as memórias sempre presentes dos campos de concentração nazis (que aliás também fecham o filme, com a visita de Simone Veil em companhia dos fihos e netos, no quadro de uma reportagem do Paris Match, 60 anos do encerramento do campo de concentração de Auschwitz), Israel dos Kibutz (para onde irão os filhos nos anos 1960), e a notável carreira profissional e política de Simone Veil em França e na Europa, de que destaco três marcas absolutamente notáveis. Primeiro, a aprovação da sua iniciativa legislativa, enquanto Ministra da Saúde e dos Assuntos Sociais, em 1974 e sob a égide de um governo dos liberais da UDF, em prol da legalização da IGV, com o apoio da sua bancada e das esquerdas. Segundo, a eleição para a presidência do Parlamento Europeu, após as primeiras eleições diretas para o PE, em 1979. Ou seja, num Parlamento Europeu então esmagadoramente masculino, é eleita uma heroína dos campos da morte, que vê na construção europeia a via de salvação da Europa, alcandorada assim ao mais alto cargo no PE. Teceiro, como lembrou a arquitecta Helena Roseta, na apresentação do filme, Simone Veil está entre as 4 ou 5 mulheres que estão no Panteão em França.
Adorámos o filme!, também com uma música notável, um filme de grande dramatismo, com muita emoção e com muita humanidade! Obrigado ao PE Lx e à Films4You pelo convite amável!
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