19 Dez Sair do euro e construir uma alternativa de esquerda. Com quem?
Na reunião do comité central do PCP, realizada no passado dia 17, foram tomadas duas decisões com particular incidência na política interna e que podem vir a ter uma influência relevante no desenvolvimento dos acordos de 10 de Novembro de 2015. São elas o lançamento de uma campanha para a saída do euro e “o empenhamento do PCP na convergência de forças, sectores e personalidades disponíveis para a construção da alternativa patriótica e de esquerda”. Estas medidas surgem para dar cumprimento às conclusões saídas do seu XX congresso, numa altura em que ainda faltam praticamente três anos para que a legislatura se cumpra e com o BE a manifestar vontade de celebrar um novo acordo político com o PS. Não será, por isso, nem excessivo, nem especulativo, considerar que tanto o que ficou decidido em congresso, como as intenções do BE e o tempo de governação que ainda falta cumprir, além dos resultados do teste dos primeiros doze meses de maioria parlamentar, não deixarão de ter sido levados em conta para o PCP tomar a decisão de promover aquelas iniciativas.
A iniciativa de explorar o aprofundamento da convergência com os partidos da maioria parlamentar, mas extensíveis a outros sectores e forças políticas, decorrerá certamente da avaliação do modo como a solução política que garante a acção do XXI governo constitucional foi acolhida e está a ser apoiada por uma alargada base social que vê nela a combinação partidária que está em melhores condições para a retirar do lugar da escala social para onde foi lançada pelo anterior governo. No fundamental, é disso que se trata. Porém, à medida que muitas das condições vão sendo revertidas e que sectores cada vez maiores da sociedade vêm repostos os seus direitos sociais, sobretudo remunerações, pensões e emprego, as exigências colocadas pelas expectativas da mobilidade social vão sendo também retomadas e cada vez maiores. Daí que esteja plenamente justificado, sendo estes os considerandos, o investimento político no alargamento a outros sectores do que o PCP designa por uma alternativa de esquerda.
A campanha pela saída do euro, a realizar durante o primeiro semestre de 2017, embora há muito se mantenha na agenda política da maior parte dos sectores políticos à esquerda do PS, de facto nunca foi liderada pelo PCP, o qual foi acompanhando e aproximando-se progressivamente das suas posições. No entanto, antes de ser outra coisa qualquer, a saída do euro é um assunto eminentemente político, o qual remete desde logo para os efeitos e consequências dessa decisão, principalmente no plano da circulação de bens e de capitais, e na turbulência e imprevisibilidade sociais que iria gerar, sobretudo no contexto de uma União Europeia mergulhada em incertezas e ameaças. Mas a insistência nesta medida, encontra pela frente, pelo menos até ver, a indisponibilidade da maior parte dos portugueses, para não falar do principal parceiro da maioria parlamentar, o PS. Se a campanha agora anunciada, na sua conclusão servir para se transformar numa exigência ao PS para a celebração de outro acordo, com a actual ou outra incidência políticas, podemos então estar perante uma situação de retrocesso a 3 de Dezembro de 2015, ou mais atrás, ainda.
Daí considerarmos que, em alternativa, a insistência e a exigência da renegociação da dívida e do serviço da dívida têm outras e melhores condições para serem bem acolhidos pelos portugueses, uma vez que o que está em causa são valores especulativos, rejeitados e repudiados por todos quantos vêm neste género de transacções a manifestação mais ignóbil da ganância capitalista.
Sorry, the comment form is closed at this time.