13 Set REGULAMENTAR A LEI DA EUTANÁSIA É RESPEITAR A DEMOCRACIA
«Por cinco vezes, a Assembleia da República aprovou, por larga maioria, a lei que despenaliza, em determinadas circunstâncias, a morte medicamente assistida. À aprovação da versão inicial da lei, no início de 2020, o Presidente da República respondeu com dois vetos políticos. Seguiram-se duas decisões do Tribunal Constitucional que exigiram do poder legislativo a adoção de acertos pontuais e de clarificações dos conteúdos normativos daquele diploma. A versão final da lei, aprovada pelo Parlamento em 31 de março de 2023 e publicada a 25 de maio, incorporou todas essas clarificações e todos esses acertos, possibilitando a promulgação pelo Presidente da República, que pôs fim a um dos mais participados e criteriosos processos legislativos ocorridos na democracia portuguesa. Não há, portanto, razão para que a lei não seja regulamentada e aplicada.
A Lei nº 22/2023, de 25 de maio, estabelece, no seu artigo 31.º, que “o Governo aprova, no prazo de 90 dias após a publicação da presente lei, a respetiva regulamentação”. Como é notório, o prazo referido foi lamentavelmente ultrapassado, adiando-se por mais de um ano a regulamentação da lei.
A regulamentação da lei que regula as condições em que a morte medicamente assistida não é punível é uma tarefa legalmente vinculada. E é também, neste caso, uma tarefa facilitada por estar em causa um diploma reconhecidamente densificado, a um nível aliás sem paralelo no Direito comparado.
Os pedidos de fiscalização sucessiva da constitucionalidade, pendentes ou futuros, não suspendem o dever de regulamentação. Assim o determina a Constituição, precisamente para que ninguém tente paralisar atos legislativos através de sucessivos pedidos de fiscalização da constitucionalidade, o que, como é evidente, desvirtuaria o Estado de Direito.
A posição que alguns titulares de cargos políticos vêm defendendo, na legislatura em curso, no sentido de que a regulamentação da Lei nº 22/2023 não deve ser levada a cabo constitui um inequívoco apelo ao incumprimento da lei. Num Estado de Direito democrático, assente no primado da lei e no respeito pela vontade popular, defender que um direito consagrado em lei da República não seja concretizado é inaceitável. Como sucedeu em vários momentos do longo processo legislativo que culminou na aprovação da Lei nº 22/2023, o que os adversários da regulamentação pretendem é criar mais um obstáculo artificial a que entre em vigor uma lei cujo conteúdo não lhes agrada. Mal andaria a democracia portuguesa se a expressão da vontade da larga maioria do Parlamento, cinco vezes reiterada, ficasse refém do desagrado de quem, nessas cinco vezes, não teve vencimento de causa.
O que a democracia exige é, pois, que não sejam acolhidas posições de desrespeito pela legalidade democrática e constitucional, e que se cumpra a obrigação de regulamentar a lei que despenaliza a morte medicamente assistida. E fazê-lo, evidentemente, promovendo a segurança e o rigor jurídicos no respeito escrupuloso pela letra e pelo espírito daquela lei. Após mais de uma década de debate público e democrático, Portugal aprovou uma lei prudente, equilibrada e justa, que respeita a vontade de todas as pessoas. Impedir a sua regulamentação é jurídica e politicamente inaceitável.
Abílio Hernandez, professor universitário jubilado
Adão Silva, professor
Adriana Cardoso, farmacêutica e analista política
Adriana Teixeira, médica
Adriano Jordão, pianista
Albano Jerónimo, ator
Aldina Duarte, música
Alexandra Lucas Coelho, jornalista
Alexandra Matias, médica
Alexandre Quintanilha, deputado
Álvaro Beleza, médico
Álvaro Vasconcelos, investigador
Amadeu Carvalho Homem, professor universitário jubilado
Ana Aragão, pintora
Ana Barbosa, empresária
Ana Benavente, professora universitária
Ana Bustorff, atriz
Ana Campos, médica
Ana Drago, socióloga
Ana Gomes, antiga eurodeputada
Ana Maria Brito Jorge, professora aposentada
Ana Markl, radialista
Ana Matos Pires, psiquiatra
Ana Pires, geógrafa
Ana Vidigal, artista plástica
Anabela Moreira, atriz
Anabela Mota Ribeiro, jornalista
Anabela Paixão, médica
André Barata, filósofo, professor universitário
André Coelho Lima, advogado
André Freire, professor universitário
André Lamas Leite, jurista, professor universitário
André Ribeiro, estudante, vice-presidente da Associação Académica de Coimbra
André Silva, engenheiro civil
André Teodósio, ator
Andreia Esteves, produtora
Andreia Garcia, arquiteta e professora universitária
António Carvalho Martins, economista e empresário
António Durães, ator
António Faria Vaz, médico
António Fonseca, ator
António Garcia Pereira, advogado
António Morgado, deputado municipal em Lisboa
António Pinho Vargas, músico
António Rodrigues, médico
António Sampaio da Nóvoa, professor universitário
Armando Oliveira, professor do ensino superior politécnico
Bárbara Reis, jornalista
Bernardo Couto, músico
Bernardo Vilas Boas, médico
Bruno Maia, médico
Capicua, música
Carla Maciel, atriz
Carlos Daniel, jornalista
Carlos Fragateiro, professor do ensino superior aposentado
Carlos Guimarães, médico e escritor
Carlos Pimenta, encenador e professor
Carlos Vargas, economista e jornalista
Carmo Afonso, advogada
Carvalho da Silva, sociólogo
Catarina Furtado, comunicadora
Catarina Martins, eurodeputada
Catarina Portas, empresária
Catarina Rocha Ferreira, advogada
Cipriano Justo, médico
Clara Murteira, economista, professora universitária
Clara Nogueira, atriz
Cláudia Vieira, atriz
Constantino Sakellarides, médico, professor universitário jubilado
Cristina Branco, música
Cristóvão Campos, ator
Daniel Bernardes, músico
Daniel Oliveira, jornalista
Daniel Sampaio, psiquiatra
Daniela Braga, empreendedora
David Justino, professor universitário
Deolinda Portelinha, médica
Deolindo Pessoa, médico
Diana Andringa, jornalista
Diana Bouça-Nova, jornalista
Diogo Infante, ator e encenador
Edgar Pêra, realizador
Eduardo Brito, argumentista e realizador de cinema
Eduardo Castela, médico
Eduardo Fontão, economista
Eduardo Paz Ferreira, jurista e professor universitário
Elina Fraga, advogada
Elísio Estanque, sociólogo e professor universitário
Emília Silvestre, atriz
Esser Jorge, sociólogo e professor universitário
Eurico Reis, juiz desembargador jubilado
Fabrice Lachize, presidente da Câmara de Comércio Luso-Francês
Fátima Cardoso Mendes, médica
Fernanda Câncio, jornalista
Fernanda Mendes, médica
Fernando Alves, jornalista
Filipe Macedo, médico
Filipe Santa Bárbara, jornalista
Francisca Almeida, jurista e ex-deputada
Francisco Castro Ferreira, médico
Francisco George, médico
Francisco Louçã, economista e professor universitário
Francisco Pinto Balsemão, antigo Primeiro-Ministro
Francisco Seixas da Costa, embaixador
Francisco Teixeira da Mota, advogado
Gabriel Goucha, jurista
Gabriela Sobral, diretora de conteúdos e produção
Gaspar Macedo, analista político
Germano Almeida, comentador
Gilberto Couto, médico
Gonçalo Waddington, ator
Guilherme Figueiredo, advogado
Helena Genésio, professora e programadora
Helena Pato, professora aposentada
Helena Roseta, arquiteta
Heloísa Apolónia, jurista
Henrique Pinto de Mesquita, editor
Hugo Carvalho, engenheiro
Hugo van der Ding, humorista
Inês Ferreira Leite, jurista, professora universitária
Inês Mendes da Silva, empresária
Inês Pedrosa, escritora
Inês Sousa Real, deputado
Irene Flunser Pimentel, historiadora
Isabel Abreu, atriz
Isabel Meireles, advogada
Isabel Mendes Lopes, deputada
Isabel Moreira, deputada
Jaime Mendes, médico
Jaime Mourão-Ferreira, publicitário
Jéssica Athayde, atriz
Joana Lopes, gestora reformada
Joana Seixas, atriz
João Albergaria, bailarino e coreógrafo
João Carlos Correia de Matos, gestor
João Cotrim de Figueiredo, eurodeputado
João Malva, investigador
João Maria Jonet, comentador
João Mesquita Guimarães, engenheiro e empresário
João Paulo Pinto Mendes, gestor de recursos humanos
João Reis, ator
João Ribeiro, fotógrafo e professor
João Rodrigues, médico
João Vicente, ator
Joaquim Magalhães Moura, engenheiro e empresário
Jorge Caixinhas, médico
Jorge Espírito Santo, médico
Jorge Gouveia Monteiro, empresário
Jorge Palma, músico
Jorge Pinto, deputado
Jorge Torgal, médico
José Aranda da Silva, coronel farmacêutico reformado
José Carlos Malato, apresentador
José Eduardo Martins, advogado
José Gama, professor aposentado
José João Torrinha, advogado
José Luís Peixoto, escritor
José Manuel Pureza, professor universitário
José Moutinho, médico
José Neves, historiador, professor universitário
José Raposo, ator
José Reis, economista, professor universitário
José Vítor Malheiros, consultor
Júlio Machado Vaz, psiquiatra
Letícia Ribeiro, médica
Lúcia Moniz, atriz
Luís Carlos Januário, médico
Luís Castro Mendes, embaixador na disponibilidade
Luís Duarte de Almeida, jurista, professor universitário
Luís Figueiredo, músico
Luís Geraldes, empresário
Luís Onofre, empresário
Luís Paixão Martins, consultor de comunicação
Luís Tavares de Almeida, economista
Madalena Almeida, atriz
Mafalda Anjos, jornalista
Manuel Cavaco, ator
Manuel Laranjeira Gomes, médico
Manuel Loff, historiador e professor universitário
Manuel Pureza, realizador
Manuel Sobrinho Simões, médico e investigador
Manuel Vilhena Roque, arquiteto
Manuela Martins, médica
Marcantonio Del Carlo, ator
Margarida Barros, médica
Margarida Lima Rego, jurista e professor universitário
Margarida Pinto Correia, comunicadora
Margot Rident, fotógrafa
Maria Antónia Almeida Santos, jurista
Maria Antónia Ferro, médica
Maria Castello Branco, analista política
Maria de Lurdes Guerreiro, médico
Maria do Carmo Lopes, investigadora
Maria do Rosário Gama, professora aposentada
Maria do Sameiro Antoninho Fernandes, médica
Maria Emília Brederode Santos, pedagoga
Maria Helena Teixeira, médica
Maria José Fernandes, Procuradora- Geral Adjunta
Mariana Leitão, deputada
Mário Nogueira, professor
Marisa Matias, deputada
Marta Brinca, médica
Marta Crawford, sexóloga
Marta Gil, atriz
Miguel Borges, ator
Miguel Cardina, historiador
Miguel Frasquilho, economista
Miguel Guedes, músico
Miguel Prata Roque, jurista e professor universitário
Miguel Salazar, ativista LGBTI+
Miguel Vale de Almeida, antropólogo
Mónica Freitas, deputada no parlamento da RA Madeira
Nuno Carinhas, encenador
Nuno Saraiva, jornalista
Olívia Moreira, médica
Paula Marques, vereadora na Câmara Municipal de Lisboa
Paulo Côrte-Real, economista e professor universitário
Paulo Furtado, músico
Paulo Magalhães, jornalista
Paulo Martins Barata, arquiteto
Paulo Moura Ferraz, advogado
Paulo Muacho, deputado
Paulo Pedroso, sociólogo
Paulo Santos, psicólogo
Paulo Trigo Pereira, economista e professor universitário
Pedro Abrunhosa, músico
Pedro Bacelar de Vasconcelos, jurista e professor universitário jubilado
Pedro Marques Lopes, comentador
Pedro Tudela, artista plástico
Pilar del Rio, jornalista e presidente da Fundação José Saramago
Raquel Strada, apresentadora
Ricardo Costa Agarez, investigador
Ricardo Paes Mamede, economista e professor universitário
Richard Zimler, escritor
Rita Blanco, atriz
Rita Ferro Rodrigues, jornalista
Rita Loureiro, atriz
Rodrigo Areias, cineasta
Rogério Alves, advogado
Romi Soares, atriz
Rosalvo Almeida, médico
Rosina Pereira, economista
Rui Bebiano, historiador e professor universitário
Rui Caria, fotojornalista
Rui Melo, ator
Rui Pato, médico
Rui Rio, economista
Rui Rocha, deputado
Rui Tavares, deputado
São José Lapa, atriz
Sara Carinhas, atriz
Sérgio Figueiredo, economista e jornalista
Sérgio Godinho, músico
Sérgio Letria, produtor cultural
Sofia Aparício, atriz
Sofia Matos, advogada
Telmo Pato, médico
Teresa Alegre Portugal, professora aposentada
Teresa Leal Coelho, jurista e professora universitária
Tereza Pizarro Beleza, jurista e professora universitária
Tiago Miranda, músico
Tiago Rodrigues, encenador
Valentina Marcelino, jornalista
Victoria Guerra, atriz
Viriato Soromenho Marques, filósofo e professor universitário.»
Fonte:
Texto publicado originalmente no Público, versão online, 12-9-2024: ver aqui.
Imagem:
Todavia, deve notar-se que a iniciativa do texto não foi formalmente do movimento mas sim de cidadãos/ãs a título pessoal, o uso da imagem foi porém consentida pelos lideres do movimento, dada a relação óbvia entre este texto e o dito movimento e o seu logotipo.
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