Quatro lições preliminares das autárquicas de 2021

Quatro lições preliminares das autárquicas de 2021

Primeiro, com tanta nacionalização das campanhas autárquicas por parte do líder do PS, raiando amiúde os limites do democraticamente inaceitável (sugerindo que os autarcas socialistas estariam mais bem posicionados para usar os fundos do PRR, como se os fundos não fossem para todos os portugueses e todos os seus representantes políticos), é impossível não fazer uma leitura nacional dos resultados de Lisboa e de muitos dos grandes centros urbanos do litoral.

Mais, em segundo lugar, os grandes centros urbanos do litoral (e também as capitais de distrito) são onde se concentram mais eleitores e mais sensiveis às conjunturas nacionais, também por isso alguma leitura nacional dos resultados nestas autarquias é inevitável. Um aviso importante para alguma sobranceria dos socialistas.

Em terceiro lugar, se as esquerdas (PS, BE e PCP-PEV mais PAN, pelo menos; não PS com partidos e/ou movimentos que ninguém sabe quanto valem eleitoralmente…., nomeadamente em Lx) tivessem sabido dar um verdadeiro sinal de vontade de aproximação local e por isso também nacional (e não de entendimentos do PS com a esquerda à segunda, terça e quarta; mas nas quintas e sextas os entendimentos serem do PS com o PSD – muitos deles muito maus: redução da frequência dos debates com o primeiro ministro e dos debates europeus; aumento do número de assinaturas para as petições irem a plenário; eleição vergonhosa das CCR, etc.) deviam ter feito como as direitas, alianças pré-eleitorais nos grandes centros urbanos, para potenciar os efeitos do sistema eleitoral; alguns resultados teriam sido diferentes, por exemplo em Lx.

Finalmente, pelas surpresas da noite eleitoral, nomeadamente em Lx, há um grande derrotado: as sondagens (antes das sondagens à boca da urna, claro).

Fonte da imagem: Declaração de Vitória de Carlos Moedas da autoria do jornal Público.

André Freire
andre.freire@meo.pt

Professor Catedrático em Ciência Política. Foi diretor da Licenciatura em Ciência Política do ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa (2009-2015). É desde 2015 diretor do Doutoramento em Ciência Política do ISCTE-IUL. Investigador Sénior do CIES-IUL. Autor de numerosas publicações em livros e revistas académicas. Perito e consultor convidado de várias instituições nacionais e internacionais.

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