09 Mai Por que fazem greve os médicos
Uma greve dos médicos é sempre um acontecimento excepcional. Pelo seu elevado sentido de responsabilidade relativamente ao que está em causa, a saúde dos doentes, quando se chega a uma situação dessas é porque a tutela se tornou politicamente irresponsável. A greve anunciada para 10 e 11 de Maio pelos dois sindicatos do sector, FNAM e SIM, é disso um exemplo eloquente. Praticamente desde que tomou posse, já lá vão mais de dezoito meses, que os sindicatos têm procurado negociar um conjunto de matérias que reponham o que progressivamente foi sendo perdido durante o governo da troika, mas também que sejam tomadas medidas que reabilitem e requalifiquem os serviços públicos de saúde. Em contínuo plano inclinado quando comparado com o sector privado, o SNS tem vivido ultimamente do seu prestígio alcançado no passado, quando representava o pilar mais sólido do estado social. Hoje as brechas estão à vista e não há dia que não se verifiquem fenómenos de degradação e incúria nos serviços que são prestados aos doentes.
O que está em causa nesta greve são questões que dizem respeito não só a condições de trabalho mas também, como tem sido sempre hábito nestas circunstâncias, a exigência da melhoria da organização e funcionamento do SNS. O sindicalismo médico nos combates que tem travado pela melhoria das condições sócio-profissionais da profissão nunca deixou de se bater também pela defesa dos serviços públicos de saúde. Por isso, não é admissível, por exemplo, que os médicos façam 18 horas de serviço de urgência sem risco para os doentes que estão a observar, como não é aceitável que não tenham o descanso compensatório que lhes é devido, como é justificado que lhes seja diminuída a idade da reforma, considerando que a profissão é de mão-de-obra intensiva e desgaste rápido. Estes são só três exemplos de uma lista mais exaustiva, que abrange também a melhoria do exercício da profissão para os médicos de família e de saúde pública, a abertura de concursos e a revisão da carreira médica.
O que está em causa nesta greve é considerar que sem médicos confortáveis no exercício da sua profissão, seja nos hospitais, seja nos centros de saúde do SNS, há primeira oportunidade vão engrossar o caudal dos que já optaram por um dos mais de cem hospitais privados, distribuídos de norte a sul, tanto no litoral como no interior. Fazer de bom aluno nas reuniões de conselho de ministros no que respeita à gestão do orçamento do sector, quando há muito está com a corda ao pescoço, é desempenhar o papel de carrasco dos serviços públicos de saúde. Defender a austeridade na prestação de cuidados de saúde mas andar sempre com o SNS na boca é o estádio supremo da hipocrisia política. Para isso há os governantes de direita. Mas não foi para isso que se assinaram os acordos de 10 de Novembro de 2015.
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