19 Abr Onde irá pastar a vaca depois de 1 de Outubro?
O dia das próximas eleições autárquicas marca o meio da legislatura.
Depois das eleições legislativas de 4 de Outubro de 2015, uma pequena revolução abalou uma tradição com 40 anos: desapareceu o “arco da governação” que condenava parte da esquerda a ser uma voz de protesto afastada da solução governativa. Pelo caminho, enterrou-se também a ideia da “eleição” do primeiro-ministro (algo que, curiosamente, Cunhal sempre afirmou ser uma “ficção” – mas das tais que tem poderes…) e o “presidencialismo do primeiro-ministro”, um conceito que se afirmou como central na nossa vida política pelo menos desde a primeira maioria absoluta de Cavaco Silva. Para ajudar à festa, o infeliz presidente que tínhamos na altura ajudou a afundar a importância do seu cargo: ladrou como pôde, mas morder, não mordeu… Mas esta circunstancia rapidamente seria alterada com a eleição do seu sucessor. De qualquer das formas, o parlamento ganhou uma centralidade nova e reforçada: é na existência de uma convergência entre os partidos com assento na esquerda do hemiciclo que se sustenta o governo
Uma importante conclusão deste processo é que os partidos políticos, e as negociações que decorrem entre as suas lideranças e em sede parlamentar ocuparam todo o espaço de intervenção política – secando, por assim dizer, a iniciativa dos cidadãos que se revêem neste modelo de governação mas não em qualquer dos partidos. Só a título individual alguns dos mais destacados proponentes independentes de uma convergência das esquerdas tem sido chamados a colaborar. É pouco!
Recordemos: vários milhões de portugueses ficaram surpreendidos nos dias a seguir às eleições de 2015 pela hipótese de constituição da “geringonça”. E com razão! Nenhum dos partidos a havia assumido com clareza – os sinais eram muito subtis, como quem não se quer queimar. Mas nos anos anteriores, várias tinham sido as iniciativas nesse sentido, a começar talvez pelo Congresso Democrático das Alternativas (CDA), pelo Movimento 3D, finalmente pelo malogrado Tempo de Avançar que tinha levado para as urnas essa mensagem clara: perdeu redondamente, mas paradoxalmente venceu a sua ideia-mestra. E em muitos desses movimentos esteve a Renovação Comunista, a Forum Manifesto, o MIC/Porto… E se nos lembrarmos da capacidade de mobilização da candidatura de António Sampaio da Nóvoa, recheada de independentes, não podemos deixar de constatar que uma solução política que se feche nas paredes dos partidos parlamentares é mais pobre do que poderia – e deveria – ser.
No próximo dia 1 de Outubro vai começar um novo ciclo, que tem as eleições de 2019 como alvo. É aqui que se deve colocar a questão de saber como contribuir para enriquecer e densificar as propostas da “vaca voadora”. Não tenho nenhuma solução miraculosa, mas teria pena que o futuro de uma solução política arrancada a ferros fosse cometido “aos outros” – os chefes partidários. Acredito que a “vaca voadora” tem mais apoio popular do que o que pode ser gerido pelos partidos – que aliás tenderão a ter o seu instinto de sobrevivência individual acima de quaisquer outros interesses. Não seria de tentar organizar no fim do ano um encontro alargado, incluindo (oficiosamente) os partidos da convergência, apostando em dar abertura aos “independentes”
e aos movimentos não partidários nesta área política? Seria uma forma de pressionar para que seja mantida a estratégia de convergência, que a procissão do que há a fazer ainda vai no adro…
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