Oh que Galo tem Lisboa

Oh que Galo tem Lisboa

 

 

Afinal Lisboa não participou nas comemorações dos 450 anos do Rio de Janeiro porque o Pop Galo da Joana acabou por não conseguir viajar, contrariamente ao que escrevemos no Publico do passado dia 20 de Setembro. E ainda bem que não viajou, pois evitámos acrescentar mais umas quantas anedotas às muitas que já há no Brasil sobre os portugueses.

 

Na verdade é pobre a nossa imaginação só inventar um galo de Barcelos para levar às comemorações dos 450 anos da cidade do Rio, uma cidade de raiz portuguesa como disseram os responsáveis brasileiros quando vieram convidar os lisboetas a participar nas comemorações, principalmente quando haveria tantos pontos para aprofundar e reforçar as cumplicidades entre as duas cidades. O Rio passou por um enorme processo de renovação, nomeadamente na zona ribeirinha onde pontua o museu do Amanhã, uma obra de Calatrava, com muitas semelhanças com o que em Lisboa se passou aquando da Expo, o que teria permitido aprofundar novas pontes e pontos de contacto, poderia ter sido mesmo a grande oportunidade para que a beleza do Real Gabinete de Leitura pudesse levar a que se apostasse na renovação da sua envolvente, praça Alexandre Herculano e rua Luiz de Camões, que são um exemplo de degradação urbana.

 

E nós que pensávamos que este percalço tivesse feito desaparecer o Galo da Joana, percebemos que o Galo afinal é Pop, fez a sua primeira aparição em Lisboa, na semana em que começou a Web Summit, e representa, como afirmou António Costa, o “que nós queremos que seja bem a nossa imagem: a de um país moderno, mas que é um país que não perde as suas raízes; um país que se afirma com base na sua cultura popular”.

 

Quando ouvimos dizer que não se quer que Lisboa se transforme num Silicon Valley ou em Berlim, mas que Lisboa seja Lisboa, Portugal seja Portugal, mas agora cada vez aberto e, como sempre, aberto ao mundo, esquecendo que Berlim e Silicon Valley são duas referências do hemisfério norte e do chamado mundo ocidental, esquecendo que a inovação e o futuro passa por muitas outras referências no mundo, referências que Portugal e os portugueses conhecem bem, a língua portuguesa transporta com ela todas as culturas e olhares do mundo e é, por isso, cada vez mais uma língua global.

 

Quando se fala em Lisboa como cidade das pontes, como uma plataforma de encontro de mundos, e, ao mesmo tempo, ficamos felizes por ser mais barriga de aluguer que criadora, como vemos com o Rock in Rio, a Arco Madrid em Lisboa ou o Web Summit, perguntamo-nos qual é efectivamente a marca que Lisboa está a construir, se é que ela existe.

 

Sinceramente, assim vai ser difícil transmitir ao mundo a imagem de um Portugal moderno, por muito que o discurso oficial nos queira convencer disso.

 

Carlos Fragateiro

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