Obama, Barack

Obama, Barack

Podemos suspeitar, mas a partir de amanhã ninguém sabe que inclinação vai sofrer a política mundial. Por isso aproveitemos estas poucas horas para dar testemunho a partir deste ponto de observação de quem juntamente com Abraham Lincoln e Franklin Delano Roosevelt, deixou a sua pegada política na presidência dos EUA: Barack Obama. Ao primeiro, deve-se a abolição do esclavagismo, a vitória dos unionistas sobre os estados do sul, e o discurso de Gettysburg, em que proclama os ideais do republicanismo, da igualdade, da liberdade e da democracia. Ao segundo, o New Deal, a política que retirou os americanos da Grande Depressão, de 1929, através de maciços investimentos públicos, e a decisão de entrar na II Guerra Mundial ao lado dos soviéticos, ingleses e da resistência francesa, e cujo contributo foi particularmente relevante para a derrota do nacional-socialismo.

Barack Obama por ter sucedido a George W. Bush e precedido Donald Trump, quase se pode considerar um epifenómeno político. Porque nada fazia prever que substituísse o primeiro e o segundo lhe viesse ocupar o lugar. No seu portfólio político não faltam, porém acontecimentos e medidas marcantes: diminuição do desemprego, relançamento da indústria automóvel, envolvimento nas questões climáticas, retirada do exército norte-americano do Iraque, restabelecimento das relações diplomáticas com Cuba, o lançamento de um sistema de saúde de cobertura universal, o Obamacare. E tão importante como as outras, não ter envolvido os EUA em nenhum conflito armado.

Ficarão para sempre as imagens da imensa manifestação popular na noite da sua primeira tomada de posse. Não nos iremos esquecer tão depressa dos seus discursos, nem da sua capacidade oratória, nem do seu estilo de liderança, nem da sua sobriedade, nem do seu humor, nem da informalidade com que lidava com quase todas as situações, nem do espírito de serviço público que imprimiu à sua presidência, nem de sua mulher, Michelle, que assumiu como missão a promoção de estilos de vida saudável.

Agora que não vai ser tão grande frequentador de Pennsilvanya Avenue, o que hoje interessa sublinhar é a personalidade deste presidente que certa vez nos disse que se não estivermos dispostos a pagar um preço pelos nossos valores, se não estivermos dispostos a fazer alguns sacrifícios para os realizar, então deveríamos  perguntar-nos se realmente acreditamos neles.

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Cipriano Justo
cjusto@netcabo.pt

Professor universitário, e especialista de saúde pública. Transmontano de Montalegre, com uma longa estadia em Moçambique, dirigente associativo da associação académica de Moçambique e da associação dos estudantes da Faculdade de Medicina de Lisboa. Várias publicações, entre as quais sete livros de poesia. Prémio Ricardo Jorge e Arnaldo Sampaio.

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