O sonho (im)possível

O sonho (im)possível

Há cerca de um ano começava a desenhar-se uma solução para um governo há muito desejado por uma percentagem significativa dos portugueses. Para quem andou nas ruas em tempo de campanha a palavra de ordem era “entendam-se!!!”. Pois bem, no meio de acordos, compromissos e cedências chegou-se à solução (im)possível.

Com a morte anunciada a cada dia, o sonho vai-se perpetuando e a vaca, felizmente, insiste em voar. Agora, com o orçamento à porta, surgem as habituais e tentadoras medidas avulsas para responder às urgências de umas metas subjectivas.

Enquanto exigente sonhador penso que é ainda longo o caminho para que este governo consiga mobilizar aqueles que exigiram o entendimento. A solução tem de passar por uma maior coesão social, nesse sentido e em tempo de novo orçamento quero relembrar o artigo 65° da Constituição e sublinhar o Direito à Habitação.

Se no pós-25 de Abril a exigência era resolver o problema urgente de milhares de pessoas que viviam em barracas ou bairros de lata, agora a exigência deverá recair sobre o combate às desigualdades no acesso a uma rede de transportes e equipamentos públicos, sobre os desequilíbrios criados pela desregulamentação do mercado de arrendamento, sobre a criação de novas formas de financiamento dos programas de habitação social e de apoio a iniciativas locais e processos de participação.

A garantia do ‘direito à cidade’ que esteve na base de uma política pública de coesão social, iniciada há 40 anos, deveria ser uma prioridade para esta legislatura transformar o sonho em realidade.

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Ricardo Santos
ricardofernandessantos@gmail.com

Ricardo Santos (Andorra, 1982). Arquitecto pela Universidade Lusíada de Lisboa, 2005. Doutor pela Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, com a tese “Arquitectura Portuguesa no tempo longo”, 2014. Membro do Conselho Editorial da colecção “Cidade Participada: Arquitectura e Democracia” dedicada às Operações SAAL e editada pela Tinta-da-China. Desde de 2010 tem participado em diversas publicações e apresentado o seu trabalho como arquitecto e investigador.

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