
09 Set O sol do futuro: o fim do comunismo, da arte e do amor, por Nanni Moretti
Vimos ontem, 8-9-2023, em sessão especial privada do Cinema Ideal, o extraordinário novo filme do realizador italiano Nanni Moretti, “O sol do futuro”.
É um filme extraordinário a vários títulos!
Primeiro, pelo leque de assuntos abrangidos de forma coerente, estruturada e divertida. Como nos diz um dos protagonistas a certa altura do filme, a obra é sobre o fim do comunismo, sobre o fim do cinema / da arte, e sobre o fim do amor…. (Cito de memória)
Segundo, porque junta tudo isto com imensa mestria num filme que é um mix de géneros dramáticos: um drama/tragédia política, um drama amoroso, uma hilariante comédia sobre o cinema dentro do cinema… genial.
Algumas notas sobre a ficção principal: num bairro popular de Roma, a célula do PCI, os seus militantes de base e um destacado militante (dirigente) e jornalista do seu órgão de imprensa oficial, L’Unita, recebem um circo em digressão, vindo da Hungria.
Todavia, estamos em 1956 e na Hungria, nesse ano, tem lugar o primeiro grande levantamento popular contra as ditaduras comunistas nos países do Pacto de Varsóvia (haverá outras, na ex RDA, em Praga, em 1968, na Polonia, anos 1980)….
O filme centra-se nas tensões entre os comunistas romanos do referido bairro sobre a posição que o partido devia tomar face à repressão feroz da URSS face ao levantamento húngaro: a militância quer censurar e operar uma cisão face à URSS, as elites do partido não….
No argumento inicial do filme, essa dissensão iria levar ao suicidio do dirigente do PCI e jornalista do L’Unita… mas a meio o realizador e a equipa ficam sem dinheiro… e têm de ponderar financiamento da Netflix ou dos asiáticos… o fim do cinema!… 





No final, Moretti e a sua mulher, a belíssima Margherita Buy (em rota amorosa divergente com o marido e realizador, no filme…), conseguem financiamento dos coreanos… mas aí o realizador muda o curso do filme: em vez de textos a apoiar a repressão da URSS, que foi o que aconteceu de facto!…, o L’Unita faz uma edição em que anuncia “o adeus à URSS”… e em vez de suicidio do jornalista e dirigente do PCI, temos casamento dele com a militante (e amante) que queria criticar a repressão da URSS: “o Sol do Futuro”… uma espécie de utopia em registo de “história contrafactual”!… Um sátira mordaz ao desejo de «happy end» das Netflix e quejandos?!?… 5* 





Genial!!
PS: parabéns aos amigos do Cinema Ideal e da Midas Filmes pelo amável convite e por trazerem mais este filme para Portugal!
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