16 Ago O retrato da pobreza na Madeira
A manchete de hoje do Diário de Notícias da Madeira detém a parangona: “Mais de 700 famílias pedem ajuda”, estando a ajuda alimentar no topo das solicitações de 724 famílias dos vários concelhos da região.
Na verdade, os números da pobreza costumam destoar, entre os que são oficiais e os de quem anda no terreno, estes últimos a penderem para mais realistas – neste ponto, quem não se lembra do tempo em que alguns governantes defendiam que era necessário esconder a miséria para salvar o turismo?
O desemprego na Região é o segundo mais elevado do país e são cerca de 45 mil, os trabalhadores em lay-off, sobretudo no ramo da hotelaria. Muitas famílias têm-se deparado com a mudança de hábitos, forçada, e resta-lhes recorrer a ajudadas estatais – e, sabemo-lo, tantas vezes essa ajuda, sobretudo assistencialista e nunca resolutiva, não chega a todos… Perante o actual cenário socioeconómico, agravado pela pandemia e pela incerteza do que nos delegará o futuro, teme-se que muitos possam passar à situação de pobreza crónica se não se recriar a capacidade de empregabilidade na região.
É verdade que se têm criado programas específicos para dar resposta às dificuldades de tantas famílias, mas estes – e sendo naturalmente necessários – são sobretudo alimentares, descurando outras necessidades igualmente prementes como a saúde (as listas de espera agravam-se exponencialmente), a educação (a pandemia pôs a nú as desigualdades entre os estudantes madeirenses e a falta de capacidade de muitas famílias de os assistirem no tempo de confinamento), a habitação (criando-se, é verdade, medidas de adiamento de pagamento das rendas face à quebra de rendimentos, porém, discriminando muitas outras famílias que são alojadas por municípios de cor política diferente – sim, há governantes que não o são para todos os madeirenses) e o emprego condigno (sem se exercer a força fiscal ao patronato, que além de usufruir do dinheiro do lay-off ainda submete os seus trabalhadores a um horário integral com rendimento parcial). Em situações de crise as resoluções têm-se restringido ao assistencialismo e à “caridadezinha” e não à intervenção na base radicular do flagelo da pobreza. E quem não se lembra ainda do famigerado PAEF na região, em que se defendiam, mais do que a resolução estrutural da crise, a criação de cantinas assistenciais e de cartões para a aquisição de alimentos?
A verdade- diz -nos empiricamente a história dos anos mais recentes – é que a eficácia dos programas que defendem a maioria dos governantes, fica aquém dos resultados necessários para a efectiva erradicação da pobreza na região.
Aliás, mesmo já tendo sido proposto a nível parlamentar por forças da oposição, ainda hoje não há sequer um plano regional para a erradicação da pobreza nem tão pouco um laboratório social para aprofundar o estudo da pobreza na Madeira e assim, mediante uma monitorização, encontrar soluções, programas mais eficazes e operacionalmente práticos e adequados, e definir estratégias concretas ante a realidade da pobreza madeirense.
Pois além dos que já estão efectivamente em condição de pobreza são ainda aos milhares os que estão em risco de pobreza e de exclusão social, e, paradoxalmente, na sua maioria são assalariados, pelo que é urgente que se encontrem soluções políticas!
Porque é às entidades governamentais responsáveis pela área social e do direito ao trabalho e à habitação, que cabe, constitucionalmente, desenvolver todas as ações, para a prevenção e combate das causas e factores de risco de pobreza de modo a que todos os cidadãos tenham a mesma dignidade social!
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