Mulheres, desemprego, discriminação no século XXI

Mulheres, desemprego, discriminação no século XXI

Não é que Portugal não tenha uma legislação avançada em termos de igualdade de direitos laborais entre homens e mulheres, mas… por cá, as mulheres continuam a ser as mais discriminadas laboralmente. Ainda há dias, por altura da sinalização do Dia Internacional da Mulher, foram várias as vozes institucionais (e privadas) que protestaram contra o facto de as mulheres serem as principais vítimas do desemprego e as mais incentivadas a “ficar em casa” em teletrabalho. Mas o que é que falta para que a Constituição se concretize, e que claramente determina que “para trabalho igual, salário igual”? Um processo de maturação e educação de mentalidades? Ou uma urgente alteração de políticas?

Dirão: mas não há qualquer trabalho que hoje seja vedado às mulheres! Sim, é verdade, pelo menos na Lei.

Mas depois vamos a ler estudos de investigação pública ou académica e que conclusões sobressaem? – as mulheres são as que, nos nossos dias, auferem de mais habilitações, mas na maioria das empresas são raras as que têm cargos de direção. Porquê? Por discriminação – é a própria ONU que admite a “mera” discriminação pelo género, em crise pandémica.

Mas o emprego feminino continua a ser desvalorizado. É mais precário, e tantas vezes com contratos não permanentes. E é mal pago.

De igual forma, o desemprego e a maior longevidade de inatividade laboral são maioritariamente femininas. Se formos ler alguns estudos da OCDE o que demonstram é que quanto maior a escolaridade maior é o rendimento – mas se aplicarmos esta conclusão ao nosso país, constatamos que a mesma está invertida para o caso particular das mulheres – mesmo, sendo estas, das maiores contribuintes para a riqueza nacional. Mas o que sucede é que as entidades laborais se apropriam e lucram com a sobre-exploração a que sujeitam as Mulheres, sem que o governo ou as autoridades de trabalho e de fiscalização laboral se insurjam.

O salário mínimo, por exemplo, continua a ser, sobretudo atribuído às mulheres – o que por si só, é uma expressão inequívoca da sobre-exploração laboral e social, das mulheres, quando são estas que se deparam com uma duplicidade de trabalho agravada por estes tempos – o teletrabalho veio agravar a dificuldade de gestão e equilíbrio entre o trabalho, tarefas domésticas e prestação de cuidados a dependentes, sobrecarregando-as ainda mais.

A igualdade de remuneração, afinal, será para quando?- quando esta luta das mulheres remonta há décadas e até já tem consagração legal? Para quando a efetivação do Tratado de Roma, que estabelece a garantia do Estado de “manter a aplicação do princípio da igualdade de remunerações entre trabalhadores masculinos e trabalhadores femininos, por trabalho igual”?

A verdade é que, sobretudo, as mulheres estão cada vez mais sujeitas à desregulação da sua vida laboral e, consequentemente, pessoal e familiar. E as consequências são várias: absentismo, depressão, baixa de natalidade, entre outras mais, com comprovado prejuízo para a socioeconomia do país.

*  artigo anteriormente publicado no JE

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Sílvia Vasconcelos
vasconcelos.silvia@gmail.com

Médica Veterinária, doutorada em Ciências Veterinárias, componente biomédica sobre os benefícios dos animais para saúde mental dos seres humanos. Actualmente dirigente nacional e coordenadora regional do Movimento Democrático das Mulheres, foi também deputada pela CDU na Assembleia Legislativa da Madeira. Foi ainda actriz no Teatro Experimental do Funchal, integrando vários projectos artísticos de teatro e de televisão desde 1986.

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