Longa vida para a vaca voadora

Longa vida para a vaca voadora

Completa-se hoje um ano sobre a assinatura dos acordos entre o PS, BE, PCP e PEV, razão de ser e viver desta criatura exótica e politicamente comprometida, a vaca voadora. E ao fim destes doze meses  pode afirmar-se que foram superadas as melhores expectativas sobre a solução política encontrada para a formação do XXI governo constitucional, considerando o histórico das relações entre aqueles partidos. Apetece dizer que valeu a pena, apesar de tudo, esperar quarenta anos por aquele momento – era um fim de tarde de 10 de Novembro de 2015 – para se concretizar o encontro que há muito vinha a ser exigido não só pelos  defensores da solução, mas também por um vasto sector da população que não se revia nas políticas executadas pelos partidos do arco da governação, como ficaram conhecidas as várias combinações de governo entre PS, PSD e CDS.

Tão importante como a concretização das medidas previstas nos acordos de 10 de Novembro foi o apaziguamento do ambiente social, favorável para todos e cada um poderem fazer planos a mais de um dia. Essa recuperação da confiança na previsibilidade do dia seguinte, apesar dos défices herdados do anterior governo, representa uma condição indispensável para o desenvolvimento social e económico, e uma fonte de inspiração para o empenhamento nas tarefas que colectivamente temos pela frente. Embora o espírito de imolação política tenha vindo a cair em desuso em consequência da idolatria do sucesso individual, também vai ser da recuperação desse espírito que vai depender a possibilidade de se alargar e aprofundar o que ficou escrito naquele dia.

Pela frente impõem-se duas frentes de combate: a melhoria da organização e das respostas das áreas sociais, com particular importância para a saúde e a justiça, e a reforma do Estado, no que ela pode representar de aproximação e participação das comunidades na administração dos bens comuns. Os votos de longa vida para a vaca voadora, sendo uma acto celebratório para o que já se concretizou, é principalmente uma exigência de que dê dois passos em frente. No sentido de mais e melhores condições de vida.

Cipriano Justo
cjusto@netcabo.pt

Professor universitário, e especialista de saúde pública. Transmontano de Montalegre, com uma longa estadia em Moçambique, dirigente associativo da associação académica de Moçambique e da associação dos estudantes da Faculdade de Medicina de Lisboa. Várias publicações, entre as quais sete livros de poesia. Prémio Ricardo Jorge e Arnaldo Sampaio.

1 Comment
  • Carlos Bettencourt de Faria
    Posted at 11:54h, 13 Novembro

    A geringonça não é mais do que uma startup política, que é como quem diz a ver se pega..
    Ainda bem. A direita já começa a tratá-la por “coligação”, o que é sinal de respeitinho.
    Desde os liberais e miguelistas que não se via a esquerda tão alinhada. Esperemos que possa significar uma mudança de regime, ou seja, uma pacífica e democrática alteração constitucional.