27 Jul Insultos e agressões aos eleitos pelo povo no orgão máximo da Democracia
A imagem é do hemiciclo da Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira (ALRAM), onde tive a oportunidade de deputar perante um mandato e por estar mais inteirada dos “comportamentos” daquela casa, é sobre a mesma que incide este artigo. Não poucas vezes a ALRAM tem sido notícia, mesmo a nível nacional, por acções e situações constrangedoras ao ponto de nos inculcar a denominada “vergonha alheia”. É prática de décadas, advinda do tempo do jardinismo, cujo legado não se destoou nos actuais parlamentares da bancada que sempre o apoiou, ao ponto de recentemente, por exemplo, um deputado da maioria se dirigir a uma deputada da oposição nestes termos: “Já percebemos porque andou tanto tempo no esgoto” (com o microfone desligado). Poderia este ser um caso isolado e já de si tão desprestigiante daquela casa mas ilustrativo da qualidade do parlamentar em causa, um veterano político que sempre primou no seu discurso e acção pelo insulto, pela humilhação e agressividade, mas não é. Situações com estes contornos são do mais comum na ALRAM, desde há décadas, mas porventura com maior agravo por estes tempos. A tendência não prima pela discussão de matérias ao serviço do povo madeirense, mas por discursos demagógicos esvaziados de soluções que se querem camuflar com acusações pessoais aos que lhes opõem. Há intervenções assentes numa flagrante falta de estudo e domínio das matérias que encontram subterfúgio em acusações pessoais revestidas de malcriação (sim, há parlamentares que são claramente mal educados em pleno hemiciclo, sem qualquer preceito de etiqueta e menos ainda de ética).
E nesta exposição é claro que não cabem honrosas excepções que pugnam pela qualidade parlamentar e pela dignificação daquela casa; não cabem também as exaltações próprias da discórdia ideológica e da defesa de diferentes pontos de vista.
Cabe, sim, a lamentável crescente falta de qualidade discursiva e oratória; de preparação de dossiers; de honestidade intelectual; de maturidade política e democrática; de abnegação do cargo para servir quem os elegeu – porque “quando um homem assume uma função pública, deve considerar-se propriedade do público”!
Chamar os colegas parlamentares de “burros” em pleno trabalho parlamentar (com ou sem o microfone ligado) é insultar quem os elegeu, ou seja, o povo; é de uma arruaça e grosseria desprestigiante para o próprio e para o primeiro órgão da democracia regional.
E ao que parece tudo acontece com a conivência do próprio presidente do organismo que ao invés de fazer valer o prestígio e dignidade da Assembleia Regional e para o efeito, se necessário, interromper os trabalhos perante tais comportamentos, deixa passar incólume este degradante quadro parlamentar que macula a Democracia e a própria Região.
À política só deveria caber homens e mulheres com ideais e com grandeza!
No Comments