INFLAÇÃO – PAGAMOS NÓS E AS GRANDES EMPRESAS NÃO?

INFLAÇÃO – PAGAMOS NÓS E AS GRANDES EMPRESAS NÃO?

Poderá a inflação diminuir enquanto existirem sanções? Certo, é que estas, as sanções (mesmo sabendo o que está na sua génese) têm desorganizado toda a economia mundial e o seu custo recai sempre sobre os mesmos: classes médias e baixas da sociedade. Este, é um tempo que não desejávamos vivenciar e que nem nas suas piores perspetivas o comum dos cidadãos poderia imaginar. As condições de vida comprometem-se de forma galopante, dia após dia, com uma perda de rendimentos que não é acompanhada de respostas políticas, firmes e realistas para lhe fazer face.

Opta-se por uma “esmola” pontual de apoio às famílias, mas não se estruturam medidas de aumento salarial; de criação de emprego condigno e permanente; da gratuitidade da educação em todos os níveis; da agilização dos serviços públicos de saúde para que não nos empurrem cada vez mais para o sector privado (quem pode ser “empurrado”, claro, e com os elevados custos associados); da estipulação imediata de um tecto de preços seja na alimentação ou na habitação – quem não viu recentemente uma reportagem na TV de alugueres de quartos  em Lisboa a 500 euros para estudantes, em condições deploráveis e muitas vezes repartidos com estranhos?; quem não tem acompanhado o assustador aumento de alugueres de casas na maioria das cidades do país (Funchal, inclusive) tornando incomportável a residência da maioria dos cidadãos nos centros ou mesmo nos limites das áreas urbanas?

Têm sido particularmente difíceis estes tempos para a maioria de nós, muito por causa da pandemia e, claro, da guerra na Ucrânia e está à vista o risco de destruição da economia europeia e das condições de vida, tais como as conhecemos, com o recorrente sacrifício das classes mais desfavorecidas. Há quem queira convencer-se (e convencer-nos, aos portugueses) de que a inflação é temporária, mas como é que poderá sê-lo quando não se vislumbra sequer que tenhamos, a nível europeu, a almejada independência energética? Será esta possível enquanto prevalecerem as sanções? E nestas circunstâncias como é se desagrava a inflação? E assim atenuar o crescente estrangulamento da economia familiar dos portugueses?

Por cá, primeiro-ministro e presidente da República, dizem que “não podem fazer mais” (do que o pacote de medidas que terá efeito já este mês), mas talvez não seja bem assim. Há que avançar rapidamente com a implementação de um tecto de preços e tributar os lucros excessivos das grandes empresas (nomeadamente as de distribuição e de energia que além do mais pagam baixos impostos no nosso país). Claro que alguns empresários já vieram a público, ante esta previsão, afirmar que as “empresas não aguentarão” tais taxas o que é caricato, senão imoral, quando as classes médias e pobres são as que têm suportado as sucessivas crises que nos têm acometido, empobrecendo, perdendo qualidade de vida, hipotecando projectos de vida, adoecendo e muitos caindo mesmo na miséria e mendicidade.

Foram enormes os lucros de algumas empresas acumulados este ano no nosso país, desde a GALP, EDP, Pingo Doce e Continente e à custa da crise que nos tem degradado (cidadãos e pequenas e médias empresas) as condições de vida e minado o poder de compra – quem não tem sentido no orçamento a escalada de preços aplicada nos produtos destas empresas?!

Alguns países da U.E. já aprovaram o imposto sobre os lucros excessivos de grandes empresas; em Portugal aguarda-se a aplicação de igual medida. Não se carece de coragem política, carece-se sim de sentido de justiça social – então enquanto uns enriquecem obscenamente à custa de oportunismo financeiro em plena crise, os demais (maioria) pagam sozinhos os custos da crise?

Ou o socialismo, no nosso país, já não se define pela equidade social?

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Sílvia Vasconcelos
vasconcelos.silvia@gmail.com

Médica Veterinária, com mestrado em microbiologia alimentar; pós-graduação em comportamento animal e doutoramento em Ciências Veterinárias, componente biomédica sobre os benefícios dos animais para saúde mental dos idosos ,com livro e artigos publicados sobre o mesmo tema. Actualmente é dirigente nacional do Movimento Democrático das Mulheres, foi também deputada na Assembleia Legislativa da Madeira. debatendo-se por múltiplas temáticas em que se destacam os direitos dos animais, direitos sociais e dos trabalhadores, direitos dos idosos e das crianças; cultura, ambiente e igualdade de género. Foi ainda actriz no Teatro Experimental do Funchal, integrando vários projectos artísticos de teatro, televisão e locução desde 1986.

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