Geringonça e António Costa – Ir Mais Longe

Geringonça e António Costa – Ir Mais Longe

 

Há um tempo em que afirmarmos o apoio não basta, é preciso ir mais longe, dar a cara, explicar muito bem o sentido e a razão do nosso apoio, assumir-mo-nos como actores de corpo inteiro do processo de mudança e não como figurantes de um mundo onde só alguns são as personagens visíveis e de quem o povo fala.

Hoje é o tempo de cada um dizer ao que vem, os desafios em que se pretende envolver e as causas que mais o mobilizam. Só percebendo os diferentes interesses e razões, os sonhos e os desejos de cada um, é possível tecer a teia complexa dum movimento que se quer de mudança. Hoje sente-se que há energia e pessoas dispostas a lutar e serem actores da mudança, algo que já tinha sentido em momentos galvanizadores, como os protagonizados pelo General Humberto Delgado e a Engª Maria de Lourdes Pintassilgo.

Quando apoiei a candidatura de António Costa à Câmara de Lisboa escrevi:

Quando penso em Lisboa penso no Québec, uma província que, pelo facto de falar francês num país como o Canadá que é maioritariamente anglófono, foi obrigada a desenvolver uma relação privilegiada com a França e a Europa, como forma de defender a sua língua e a sua identidade cultural. O que parecia um constrangimento, transformou-se numa oportunidade, sendo hoje o Québec uma plataforma e um ponto de encontro e diálogo entre as culturas europeias e americana, um laboratório de experimentação e cruzamento de culturas, que produziu criadores e estruturas de referência como Robert Lepage, a Celine Dion ou o Cirque du Soleil.

Lisboa é essencialmente europeia, mas isso não quer dizer que o seu modelo de futuro deva ser o de Berlim ou o de outra cidade europeia. Lisboa, a capital da língua portuguesa, uma língua que tem em si todas as culturas do mundo, pode e deve ser diferente, porque só assim pode afirmar-se como dona de um conhecimento e de uma capacidade de diálogo com outras culturas e civilizações que a Europa não tem, nomeadamente com a África, o universo Ibero-Americano e a Ásia.

Hoje penso que estas questões se podem colocar não só à cidade de Lisboa, mas a Portugal, reconhecido internacionalmente como o pioneiro da globalização, a primeira aldeia global, ser uma plataforma de encontro de mundos e de criação dos futuros possíveis. António Costa e a Geringonça conseguiram, o que penso acontecer pela primeira vez no discurso político português[1], assumir a importância estratégica da lusofonia e da língua portuguesa, o que é um passo importante para que a ideia de Portugal como uma plataforma de encontro de mundos, olhares e culturas, possa fazer o seu caminho.

Se mais não houvesse essa já seria uma razão forte para reafirmarmos que valeu a pena. Mas há mais:

– terem assumido um projecto para as regiões fronteiriças, reconhecendo-as como espaços de ponte com a Espanha e de entrada/ligação com a Europa, dando uma outra centralidade a regiões do país que estão a lutar contra a desertificação;

– pensar que há dimensões sociais determinantes para a construção/invenção do futuro, como são a educação, a ciência e a cultura;

– transmitirem uma sensação de confiança, em quem se pode acreditar.

Mas este sentido de confiança e crença exige um sentido de inquietação e crítica que obriga a uma cada vez maior exigência, a não ficarmos satisfeitos com o que acontece no interior da normalidade. Por isso é fundamental incentivar a existência de fóruns permanentes de discussão, capazes de mobilizar as mulheres e os homens que querem ser actores duma mudança profunda e trazer para o centro das decisões os muitos talentos que, por desmobilização ou fuga para o estrangeiro, temos vindo a perder. E temo-los perdido  não só por falta de condições para os agarrar, mas muito pela acção das corporações que nos diferentes níveis da sociedade portuguesa não deixam que alguém possa pôr os seus poderes em causa. Em muitos sectores da sociedade portuguesa há uma guerra clara à inteligência e à sensibilidade, o que impede a emergência de novos talentos, e por isso é urgente o lançamento de olheiros que, como fazem no futebol, descubram os melhores nas diferentes áreas de intervenção social.

Mais do que claques de clubes que levam a defesa dos seus clubes para níveis irracionais de fanatismo, o que temos de exigir a António Costa e à Geringonça, e a nós próprios também, é que este seja o tempo e o espaço de construção de um novo modo de fazer política e de afirmar um outro modelo de desenvolvimento para o país, seja a altura de afirmar outros futuros.

 

Carlos Fragateiro

[1] A este nível só Ribeiro e Castro tem assumido esta ideia como uma questão estratégica para Portugal.

Carlos Fragateiro
carlos.fragateiro1@gmail.com
2 Comments
  • Mfernandes
    Posted at 10:56h, 14 Outubro

    Longa vida para o sítio agora nascido. Refletir, parilhar, agir

  • Isabel Maria de Gouvêa Falcão
    Posted at 20:30h, 21 Outubro

    Sim, força companheiros, como diz MFERNADES no comentário anterior : REFLECTIR-PARTILHAR-AGIR .
    Mais uma janela de esperança que acaba de abrir-se ?
    E venham mais cinco !