20 Jun Do fogo
É da autoria do Secretário de Estado da Administração Interna, Jorge Gomes, o que de mais relevante foi dito até ao momento sobre a catástrofe de Pedrógão Grande. Disse ele que cabe à Protecção Civil evoluir do tradicional modelo das resposta reactivas para as respostas pró-activas, informando, sensibilizando, capacitando as populações para responder aos riscos desta natureza, incêndios florestais e temperaturas extremas. Uma Protecção Civil de proximidade, em que os habitantes das localidades sejam agentes activos e a primeira linha da prevenção daqueles fenómenos. De facto, uma vez que a intervenção sobre a floresta é obra para décadas, se se chegar a concretizar, então há que desenvolver alternativas estratégicas que consigam encontrar soluções para o curto e médio prazo. E aquela é a melhor que se adequa às situações em causa.
Não é necessário ter formação académica sobre o fenómeno que se verificou em Pedrógão Grande ou ser perito em fogos florestais, nem possuir toda a informação sobre os acontecimentos, nem deixar de se manifestar toda a solidariedade para com os familiares dos que morreram nesse dia, para se poder afirmar categoricamente que a cultura da prevenção, como não esteve presente em todos os anteriores governos, continua a não fazer parte das prioridades do XXI governo constitucional. Morrem pessoas que não deviam morrer, em incêndios florestais, por efeito do frio excessivo, em consequência das altas temperaturas.
Na presença de acontecimentos meteorológicos de risco é a natureza sacrificial dos resultados que tem estado sempre presente. Uma espécie de imolação ao deus da incúria, na expectativa de que o destino seja benevolente com os mortais. Os dispositivos para combater estes fenómenos sazonais, mesmo os mais críticos, hão-de decorrer sempre de decisão política do governo, compreendendo as autarquias locais, indo da Administração Interna à Saúde, da Agricultura à Segurança Social, no sentido de se promover a prevenção à categoria de exigência social e nacional.
Nunca haverá corporações de bombeiros que bastem, nem urgências hospitalares suficientes, nem boas vontades disponíveis para responder a acontecimentos que deveriam ter merecido respostas anteriormente planeadas e colocadas próximo das populações. As manifestações de solidariedade são inestimáveis nestas alturas, mas elas são igualmente a expressão do que não se fez ou ficou por fazer. O mais importante mesmo irão ser as respostas políticas que tenham resultado da aprendizagem com os erros e as omissões. E já agora, do muito que já se sabe sobre os assuntos. É que a avaliação e prevenção dos riscos previsíveis, e há muito que estão identificados, são a condição necessária para responder com eficácia aos fenómenos aleatórios, diminuindo-lhes o impacto sobre as comunidades humanas Mas para isso há que tomar consciência da dimensão e relevância social do que está em causa. Frequentemente, os acontecimentos funestos, sobretudo se têm a escala que este teve, servem para esse efeito. Porém, e também frequentemente, não passa daí logo que que chega o outono.
Sendo este o governo que de momento representa a circunstância política em que Portugal se encontra, então esse governo tem de estar à altura dessa circunstância, que é de grande exigência e rigor sociais. As explicações são todas admissíveis, tenham elas a razoabilidade que tiverem, sobretudo quando são dadas no rescaldo dos acontecimentos. De momento o que importa, para além de acudir às populações que ficaram expostas, é conhecer as decisões que o governo vai tomar para enfrentar os três meses do verão que está a começar, e a estratégia que vai seguir para que esta e outras calamidades sociais equivalentes não se verifiquem nos anos mais próximos.
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