DE AUSTERIDADE EM AUSTERIDADE

DE AUSTERIDADE EM AUSTERIDADE

É como andam os portugueses há mais de uma década, em austeridades sucessivas impostas pelas várias governações, mesmo sob capas diferentes e demagogicamente “justificadas”, tendo, porém, um resultado comum: a perda de poder de compra de quem trabalha e a (assustadora) aproximação do limiar da pobreza de uma grande percentagem de indivíduos e famílias.

Na função pública, por exemplo: o congelamento de carreiras, o corte de salários, a “troika”, a falaciosa reposição de rendimentos (pois feitas as contas, resultam num saldo de perda de rendimento mensal na ordem de quase 100 euros para muitos trabalhadores com salário médio, ou ligeiramente acima) e mais recentemente uma inflação galopante com os preços de bens essenciais a disparar e sem a devida fiscalização do Estado. Neste último aspeto, ressalvo dois flagrantes de exemplos recentes: 1) os combustíveis, a nível nacional, que, mesmo quando desceram irrisoriamente, continuaram a aumentar e algumas gasolineiras; 2) o pão que, mesmo com o apoio estatal ao sector da panificação, veio a aumentar em algumas padarias e lojas de revenda, na RAM.

Sim, a inflação aumentou e a guerra agravou o custo de vida, mas a especulação do mercado e a falta de fiscalização das entidades estatais estão à vista e esta ação/inação são inadmissíveis, dadas as consequências – graves – que têm no dia a dia dos cidadãos. É assustador ir ao supermercado e sem acrescer o consumo de produtos, deparar-se com um aumento de gastos cada vez mais insuportável. Houve produtos (essenciais) que nos últimos três meses aumentaram cerca de um euro! Agora façam-se outros cálculos: os aumentos salariais tão embandeirados pelo atual governo de 0,9% (que, dada a subida de escalão em muitos casos, repercutiu-se em perda de rendimento…) que poder de compra têm contra uma inflação de 8%? (diz-se que é a mais alta desde 1993).

E não deixa de ser irónico- corrijo, de ser revoltante, dada a demagogia ofensiva! – que o sr. primeiro-ministro, cujo governo na recente discussão do Orçamento de Estado, rejeitou reiteradamente a atualização (condigna!) de salários da Administração Pública tenha vindo este fim de semana pedir um esforço às empresas para aumentar o salário médio em 20 % nos próximos 4 anos, em nome de uma “maior justiça remuneratória” (sic). Estou completamente de acordo com o pedido, desde que aos grandes empresários, mas… que moral tem o governo quando há uma semana decidiu manter os reformados e pensionistas e os trabalhadores da Administração Pública com remunerações das mais baixas da EU? Em alguns países europeus, os salários aumentaram e a tributação sobre grandes fortunas foram medidas avançadas para fazer frente à inflação. E por cá? Mantém-se umas das altas taxas de impostos da Europa, salários congelados desde 2008, seguidos de uma reposição incompleta e de uma “esmola” de 0,9 % de aumento este ano e a agravar, um aumento de preços assustador nos supermercados e mercearias nos postos de abastecimento a par da habitação que assiste a preços incomportáveis para o nosso nível salarial – e o governo não fixa e fiscaliza os preços?!

Este, é um governo socialista- é, não é? – e agrava assim o fosso da desigualdade e da pobreza no país que governa? Para quando, em Portugal, um governo que esteja “à altura das necessidades dos portugueses”? Ao invés, condena-os à pobreza ou ao limiar da pobreza?

A política, Srs. governantes, só faz sentido quando está “orientada para o bem comum de todos” e não para uma minoria oligárquica!

 

 

(Nota da autora: este conteúdo foi publicado pela mesma no JM em 12 de Junho; a imagem foi retirada da net, desconheço a autoria)

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Sílvia Vasconcelos
vasconcelos.silvia@gmail.com

Médica Veterinária, com mestrado em microbiologia alimentar; pós-graduação em comportamento animal e doutoramento em Ciências Veterinárias, componente biomédica sobre os benefícios dos animais para saúde mental dos idosos ,com livro e artigos publicados sobre o mesmo tema. Actualmente é dirigente nacional do Movimento Democrático das Mulheres, foi também deputada pela CDU na Assembleia Legislativa da Madeira. debatendo-se por múltiplas temáticas em que se destacam os direitos dos animais, direitos sociais e dos trabalhadores, direitos dos idosos e das crianças; cultura, ambiente e igualdade de género. Foi ainda actriz no Teatro Experimental do Funchal, integrando vários projectos artísticos de teatro, televisão e locução desde 1986.

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