08 Abr Churchill e nós
Pode parecer estranho que tenha resolvido começar a minha colaboração com a Vaca Voadora sob a égide de Churchill, um político que por muitas voltas que tenha dados – de conservador a liberal e de regresso ao seio dos tories, de derrotado nos Dardanelos/Galipoli como ministro da guerra (1915) e responsável, com chanceler do tesouro, pelo desastre da adesão britânica ao padrão-ouro, demolida por Keynes, que levou o numero de desempregados a ultrapassar pela primeira vez a barreira do milhão, provocando a primeira greve geral efectiva no Reino Unido, a vencedor indiscutível da II Guerra Mundial – permanece um político de outras águas. Mas por vezes teve razão…
Quando o primeiro ministro britânico Neville Chamberlain desembarcou em Londres vindo de Munique onde assinou com Hitler um tratado que lhe permitiu prosseguir a sua política expansionista, dando corpo à política de “apaziguamento” com que pretendia travar o desequilíbrio cada vez mais gritante de forças na Europa, proferiu palavras históricas “Assinei a Paz para o nosso tempo” (copiando o seu antecessor Benjamin Disraeli…). Churchill levantou-se no Parlamento e disse: “Você teve à sua frente uma escolha entre a desonra e a guerra. Escolheu a desonra – e vai ter a guerra”. Teve razão…
Este episódio tem-me vindo á cabeça a propósito da relação que Portugal deve ter em relação a um outro alemão de espirito expansionista: Wolfgang Schauble (que não é Hitler, nem parecido, mas tem uma concepção germanizada de Europa como há muito se não via). E Churchill parece-me ser uma voz a escutar
António Costa tem dito que antes das eleições alemãs não é conveniente que Portugal coloque unilateralmente em cima da mesa o problema da gestão do euro e da divida, problema que não é exclusivamente nosso. O argumento é táctico: não chegou o tempo certo. Talvez António Costa espere que das eleições francesas saia um aliado – mas é pouco provável: Emanuel Macron, o provável novo presidente, saiu da maioria de Hollande pela porta da direita e de mãos estendidas a Schauble. Talvez espere que o efeito Schultz na própria Alemanha, se não derrubar Merkel (pouco provável) pelo menos a obrigue a dispensar Schauble. Há certamente um “optimismo irritante” na posição de António Costa.
Mas dou de barato que de táctica sabe ele mais do que eu. A questão a que nenhum de nós pode fugir é esta: o que fazer no dia 25 de Setembro quando os votos estiverem contados em Berlim? E aí vem o dilema de Churchill: pactuar com o status quo (a desonra) ou partir para a guerra (em sentido figurado, ou seja: afirmar que enough is enough)
Para se poder partir para uma guerra é preciso ter um exercito e uma táctica. O exercito de Costa só pode ser a opinião publica portuguesa, a mobilização dos cidadãos por uma causa critica: reverter a arquitectura do euro que provocou um acentuar dos desequilíbrios internos na Europa e construir uma moeda única que responda aos problemas colectivos e não apenas dos países mais fortes (que dela tem beneficiado largamente à custa de outros que pertencem à mesma União supostamente solidária). E a opinião publica só se mobiliza se souber em torno de quê
Pode o governo fazer seminários (à porta fechada), e contactos diplomáticos (necessariamente discretos) para afinar a sua posição. O estado da social-democracia na Europa não augura que seja essa família política a determinar o ritmo dos acontecimentos. E a convergência regional – o Sul da Europa – carece de sintonia política que permita esperar dele uma solução articulada. Mas chegará o dia em que não é possível manter a discussão entre os corredores de Bruxelas e das capitais europeias. É preciso conhecer a posição que António Costa defende para o futuro.
Bem sei que a democracia nacional não agrada a certos senhores em Bruxelas – e os gregos que o digam… Mas é na voz dos portugueses que está a força de António Costa. Por isso, não é possível adiar por muito tempo a apresentação das linhas mestras da solução que António Costa defende. Delas dependerá o sucesso da Vaca Voadora em assegurar que é possível uma outra política na Europa – e outra política em Portugal que não a que nos vem sendo imposta com maior ou menos despudor. Que implica guerra ao stauts quo – ou a desonra que se abateu sobre os gregos
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