
27 Ago A vulnerabilidade das crianças e dos idosos no quadro da pandemia em Portugal
É impossível ficar-se alheio às últimas notícias que envolvem crianças e idosos, fortemente penalizados pela Covid-19. E remeto logo o tema para as crianças que são institucionalizadas e que ficam em isolamento mesmo com um resultado de teste –Covid negativo, e para os idosos a quem têm falhado organismos oficias e institucionais, quanto mais não seja pela falta da devida fiscalização aos lares que os acolhem.
A própria DGS reconhece que na primeira situação a “decisão é difícil” – e é-o, sem dúvida, para mais tendo em conta as implicações que poderiam ter para outras crianças acolhidas pela instituição. Mas isolar crianças e jovens, “arrancadas” às famílias (sim, é verdade que tantas vezes é esta a melhor solução quando a violência e a negligência tomam conta destes miúdos…) e ao seu ambiente num espaço exíguo, e sozinhas? Mesmo havendo, obviamente, o seu acompanhamento pela instituição, quem consegue imaginar uma criança a maior parte do tempo entregue a si mesma num espaço complemente desconhecido? Mais, quem se colocaria no seu lugar, fragilizada pelas circunstâncias que a conduziram ao lar de acolhimento, e sem o apoio psicológico e físico capazes, se não de as confortar, ao menos de lhes apaziguar os medos e a ansiedade natural e inerente a qualquer mudança e adversidade? Não seria de equacionar – sim, sabemos que a pandemia nos veio determinar novos comportamentos e há que minimizar os riscos – que alguém pudesse, mesmo que em turnos ou de forma rotativa, e devidamente equipado, assistir presencialmente e de forma mais contínua estas crianças? Para maior tranquilidade e vinculação das mesmas…Sim, parece-me a terminologia apropriada – uma relação de vinculação e proximidade que possa suprir de alguma forma a falta dos alicerces familiares (família cuidadora, família protectora…) essenciais à trajectória do seu desenvolvimento de vida. Como se já não lhes bastasse a vulnerabilidade própria da infância, vêm as próprias instituições reproduzir os modelos e a adversidade que as institucionalizou distorcendo-lhes ainda mais a afectividade e potenciando-lhes a tristeza. Quando as instituições o que deveriam era de amenizar os efeitos da separação familiar, prestando cuidados o mais presencial e próximo dos cuidados parentais, a estas crianças.
O mesmo acontece nos lares de acolhimento de idosos e unidades de cuidados continuados – também nestes os idosos poderão ser sujeitos ao isolamento no âmbito das normas instituída para lidar com a pandemia. Isto, além das notícias que têm vindo a lume sobre a falta de condições e condignidade nos cuidados destas pessoas, agilizadas pela falta de fiscalização e de auditorias nos lares – que são da responsabilidade da Entidade Reguladora para a Saúde! Perante a morbilidade e mortalidade nos lares portugueses (que não se circunscreveu ao lar em Reguengos…) não é mais do que tempo de rever os licenciamentos e de cumprir a vigilância e supervisão regulamentares nestes espaços para averiguar, e prevenir, as circunstâncias de prestação de cuidados aos idosos? Cuidados médicos incluídos! Para que as famílias e a sociedade em geral possam ter confiança nestas instituições como lugares de garantia de protecção e cuidado aos seus idosos.
E claro que nada do exposto coloca em causa a qualidade dos muitos bons profissionais que, tantas vezes sem recursos adequados às suas funções, desenvolvem trabalhos de excelência com estes utentes. Porque é ao Estado Português que cabe ser o regulador destas instituições e de facultar todos os meios necessários à sua laboração e à defesa destas populações, mais vulneráveis. Crianças e idosos.
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