
12 Abr A FRANÇA NA VÉSPERA DO 25 DE ABRIL
A 2ª volta das eleições presidenciais francesas, disputadas entre Macron e Marine Le Pen, vai novamente representar a disputa entre os valores democráticos e a extrema-direita, com o cerco à República como pano de fundo. Não é por os coletes amarelos serem uma amálgama de razões de protesto que essas razões não têm razão de existir e serem um sintoma do mal estar que atravessa a sociedade francesa. Embora não se deva somar o que não deve ser somado, o que as votações em Le Pen e Mélenchon representam é precisamente esse desconforto social que Macron não conseguiu sequer mitigar durante os seus cinco anos de mandato. A percepção de que ele é o presidente dos ricos significa alguma coisa, que as diferenças sociais se acentuaram com os trabalhadores a verem as suas condições de vida piorarem.
Com os efeitos que as sanções à Rússia se começam já a sentir, o resultado da disputa entre os dois candidatos é particularmente incerto. O que Macron poderá ter como certo são os seus quase 28% da 1ª volta, tudo o resto é incerteza. Sabe-se já que cerca de um quarto do eleitorado da França Insubmissa de Mélenchon, mais de um milhão e meios de votos, poderá vir a votar em Le Pen que terá em parte dos eleitores das outras candidaturas um deslocamento de votos que poderá levá-la ao Eliseu.
Cabe, por isso, ao incumbente traçar uma estratégia suficientemente ousada para sair vencedor na noite de 24 de Abril, a qual terá obrigatoriamente de passar por um entendimento com a França Insubmissa. Está em cima da mesa a negociação com esta formação de um Programa que dê resposta aos principais problemas que os trabalhadores e a classe média enfrentam, sendo desejável a presença de ministros daquela força política no próximo governo saído das eleições legislativas em Junho próximo.
Seguramente que até 24 de Abril muito se discutirá sobre a guerra na Ucrânia e o ricochete que as sanções impostas à Rússia estão a causar aos franceses e aos europeus em geral. Além do papel que a NATO está a ter no conflito, o tema das negociações para um cessar fogo também não deixará de estar presente. É minha convicção que o candidato que apresentar o melhor cenário de paz e o papel que a Rússia possa vir a ter na geoestratégia europeia será aquele que com alta probabilidade venha a ganhar as eleições. Embora possa parecer um lugar comum, o resultado eleitoral tanto pode vir a ser um novo alento para a Europa como o princípio do seu desmembramento.
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