07 Jun 50 ANOS MERECIAM OUTRO SÍMBOLO
Não é visita de casa, não conheço o senhor pessoalmente, a não ser pelas suas aparições nos órgãos de comunicação social. Após a conclusão das funções para que foi eleito, já lá vão umas dezenas de anos, não lhe conheço qualquer actividade particularmente relevante, a não ser uma formação académica na universidade de Navarra, tendo sido um desconhecido participante no 25 de Abril, foi o cérebro militar do 25 de Novembro, é a personalidade escolhida pelo Presidente da República para presidir às comemorações do 50º aniversário do 25 de Abril, dentro de três anos.
Se a escolha foi feita com esta antecedência é porque se quer dar à data um brilho especial. Porém, a altura do anúncio não será alheia à tomada de posição dos 28 generais, num gesto de solidariedade com as suas exigências. Portanto, esta escolha não é politicamente inóqua. É a demonstração de que lado Marcelo Rebelo de Sousa sempre esteve antes e durante o seu mandato. E estará até 2024. Pela decisão que tomou, não se devia ter esperado pelo 25 de Novembro, o 25 de Abril já devia ter sido o 25 de Novembro, como toda a direita sempre reclamou. Aliás, o 16 de Março não foi mais do que uma tentativa de ultrapassar o processo que estava em preparação e tinha o consentimento de Spínola. Era a transposição para o terreno do seu livro Portugal e o futuro.
Eis, simbolicamente, o significado daquela escolha. Mas já que foi assim, cinquenta anos passados, MRS quer traçar uma espécie de bissectriz entre os dois acontecimentos. Simplificando: golpe militar, sim; revolução, não. Eis a síntese impossível para quem viveu 48 anos sob uma ditadura fascista. Historicamente sabe-se que quem escreve a história são os vencedores. MRS vem escrever mais uma página sobre esse princípio. Se não tem cedido à exigência sistematicamente reivindicada pela direita relativamente à criação de uma feriado naquela data é porque teria de lidar com uma reacção da população que iria manchar o seu curriculum presidencial. Mas algum sinal teria de dar, e ele aí está. Todos os beijos e abraços distribuídos durante a maior parte do primeiro mandato eram para terem retorno durante o segundo mandato. Foi com a pandemia, em que durante algum tempo apareceu a liderar as operações. É agora agora com esta indigitação, e mais se seguirão.
A única maneira de responder a esta afronta política é, como no 25 de Abril de 1974, o povo encher as praças, as ruas e avenidas de manifestações e festejos de alegria pela instauração da liberdade e democracia.
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