
26 Nov 26 de Novembro de 2017
Se a 26 de Novembro de 2015 foi criada uma oportunidade para se estabelecer uma correlação de forças políticas com possibilidades de inverter as medidas mais negativas do governo anterior, ao fim da primeira metade do mandato do XXI governo constitucional, o balanço da sua acção, embora sendo positivo naquilo que ficou consagrado nos acordos de 10 de Novembro, pelo caminho não se aproveitou essa conjuntura para se dar início a uma série de reformas que há muito não conseguem sair do âmbito das intenções. Há sempre qualquer acontecimento, fenómeno ou distracção que tem inibido o governo de agir.
Apesar dessas contrariedades, o que tem prevalecido, no entanto, é a falta de intenção política. Houvesse vontade de mudança e todos esses acontecimentos seriam facilmente ultrapassados. Sem ela todos os epifenómenos acabam por se impor como fenómenos relevantes, adquirirem uma lógica incontrolável e são bons para justificar a ausência de iniciativa em sectores tão importantes como a descentralização ou a saúde, os exemplos maiores do que está por fazer, e que por este andar ainda não será desta que se concretizarão. Há sectores da governação que entraram claramente em modo de despacho do expediente, que aspiram a que no fim do dia não haja nada em cima da secretária por muita agitação que mostrem ou por muitos papéis que atirem ao ar.
Não foram os acordos que foram insuficientes, considerando as prioridades imediatas que exigiam respostas de curto prazo. Foi o partido socialista não ter um programa de governo suficientemente mobilizador para ir além da primeira parte do mandato. Daí que, esgotadas as medidas negociadas com o BE, PCP e PEV, o governo se encontrar enredado na casuística, na gestão corrente, sem saber como tomar a iniciativa. A política das reversões foram importantes e serviram para um ajuste de contas com as injustiças do passado, mas governar é essencialmente projectar no futuro e realizar o que há para fazer. E neste aspecto, sobretudo depois dos acontecimentos deste verão/outono, o governo foi tomado por uma espécie de complexo de culpa, de torpor, sem condições subjectivas para sacudir esse pesadelo. Deixou que o Presidente da República passasse a liderar a agenda política, que sobre todos os assuntos tivesse uma palavra a dizer, que estivesse sempre a pedir explicações sobre isto e sobre aquilo.
Se há maneira de resolver este impasse é investir na descentralização e na agenda da política de saúde e mostrar que é possível fazerem-se mudanças que alterem significativamente o que até agora não foram além das proclamações. A segunda metade do mandato ou será de tomada de decisões que perdurem no tempo, na vida e na memória da população, ou corre-se o risco de em 2019 os eleitores já se terem esquecido do que aconteceu em 2016 e 2017.
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