Lulu, Uma Tragédia Monstruosa, no TEC

Lulu, Uma Tragédia Monstruosa, no TEC

Está em cena no Teatro Mirita Casimiro uma peça de Frank Wedekind, «Lulu, Uma Tragédia Monstruosa», levada à cena pelo Teatro Experimental de Cascais, com encenação de Carlos Avilez e versão dramatúrgica de Miguel Graça. A versão original da dita tragédia, monstruosa, maldita, escandalosa, etc., terá sido depois escrita e reescrita pelo seu autor (para superar as proibições e os escândalos), nomeadamente dando origem a um conjunto de duas peças «Lulu – Espírito da Terra (de 1895) e A Caixa de Pandora (de 1904)», em Portugal dada à estampa pela editora Húmus, 2018. A versão atualmente em cena no MC, pelo TEC, supostamente baseia-se no texto original. É uma peça sobre a ascensão e queda de uma belíssima jovem, de origem humilde, mas tão bela e sensual que faz render bem esses seus predicados do ponto de vista financeiro… (à misturas com «golpes do baú» em que vale tudo, até matar, para se atingirem os objetivos…) É uma história de sexo, ganância, obsessões, num ambiente de «vale tudo» para obter o que se pretende, um ambiente de completo niilismo e obsessão sexual… a certa altura a peça de Frank Wedekind, escrita no final do século XIX, início do século XX), fez-me lembrar «A história de Juliette, ou as prosperidades do vício», do Marquês de Sade, com a grande diferença de que esta peça de Wedekind termina (na segunda parte) com um fim decadente, miserável e trágico (quiçá mais próximo, mutatis mutandis, da História de Justine do que da História de Juliette…) e, portanto, neste caso o vício não resulta em prosperidade, pelo menos para Lulu.

O texto é fortíssimo, como se pode imaginar pela minha sumária descrição, mas a encenação de Carlos Avilez é também magistral. Os cenários, os figurinos e a música criam um perfeito ambiente de luxuria, obsessões sexuais, decadência, miséria e depravação, consoante os quadros. O trabalho dos atores e atrizes é também magnifico, do género de teatro em que cada ator e atriz dá um bocado de si em cada representação, muito longe do estilo declamatório associado a algum teatro português. Com um grande elenco (no sentido numérico do termo, mas também da perspetiva da excelência dos desempenhos), e um ainda maior leque de personagens (muitos atores/atrizes desdobram-se em várias personagens) a obra tem magnificas representações de jovens e consagrados atores e atrizes, de que destaco os que me impressionaram mais Bárbara Branco, como Lulu, Miguel Loureiro (que já tinha visto pelo menos em «Os últimos dias da humanidade»), Elmano Sancho (que já tinha visto pelo menos em «Não se brinca com o amor») e Isac Graça (que já tinha visto na série «As três mulheres», representando o editor da Afrodite, Fernando Ribeiro de Mello). Uma obra maldita, uma representação magnifica, e que, portanto, se recomenda vivamente. Atenção: só está no TEC até 15 de dezembro…  

Fontes: foto retirada do sítio do TEC na rede.

André Freire
andre.freire@meo.pt

Professor Catedrático em Ciência Política. Foi diretor da Licenciatura em Ciência Política do ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa (2009-2015). É desde 2015 diretor do Doutoramento em Ciência Política do ISCTE-IUL. Investigador Sénior do CIES-IUL. Autor de numerosas publicações em livros e revistas académicas. Perito e consultor convidado de várias instituições nacionais e internacionais.

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